O pianista, cantor e compositor João Donato morreu, na madrugada desta segunda-feira (17), aos 88 anos, no Rio de Janeiro.
“Hoje o céu dos compositores amanheceu mais feliz: João Donato foi para lá tocar suas lindas melodias”, escreveu uma mensagem no perfil do músico no Instagram.
“Agora, sua alegria e seus acordes permanecem eternos por todo o universo”, acrescentou.
Seu velório será realizado no Theatro Municipal do Rio, em horário a ser divulgado.
A Casa de Saúde São José, que fica na zona sul do Rio, informou em nota que o falecimento foi às 3h20 desta segunda. A causa da morte não foi divulgada.
No final de junho, o cantor publicou uma foto com seu filho, Donatinho, “depois de 26 dias de molho no hospital”, mas não indicou a razão da internação.
João iria se apresentar em São Paulo em setembro, no Coala Festival, em uma apresentação especial com o cantor Martinho da Vila.
Recentemente, Donato também excursionou com o cantor Jards Macalé, com quem lançou em 2021 o disco “Síntese do Lance”, com dez músicas inéditas.
Nas redes sociais, artistas lamentaram a morte do pianista.
“João Donato foi um dos seres humanos mais incríveis que conheci nessa passagem, um brasileiro sensacional… me chamava de Marcelinho e isso enchia meu coração. Vou sentir muito sua falta, meu amigo, descanse em paz”, escreveu o cantor Marcelo D2.
O músico Wilson Simoninha lembrou Donato como “um dos grandes mestres da nossa música”: “Lembro com carinho da emoção de ter tocado com ele em um programa do Serginho Groisman e ter passado a tarde no camarim conversando e escutando suas histórias foi incrível. Meus sentimentos Donatinho e toda família. Seguiremos escutando seus acordes e suas canções.”
“A música popular está de luto. A morte de João Donato deixa o Brasil e o mundo tristes. Ele era um gênio e um músico profundamente identificado com o país. Meus sentimentos a Ivone Belém e família. As melodias de João estarão para sempre na alma do povo brasileiro”, publicou no Twitter.
Expoente da Bossa Nova
Natural de Rio Branco, no Acre, João Donato de Oliveira mudou-se para o Rio de Janeiro aos 11 anos, em 1945.
Foi na capital fluminense, tocando em festas de colégio e participando de jam sessions que João se aproximou do jazz, tocando na sede do Sinatra-Farney Fan Club e na casa do cantor carioca Dick Farney, quem conheceu quando ambos trabalharam no hotel Copacabana Palace.
Em 1951, começa a trocar o acordeom da infância pelo piano. Cinco anos depois, mudou-se para São Paulo, mesmo ano em que começou a tocar no grupo “Os Copacabanas” e gravou seu primeiro disco, o LP “Chá Dançante”, pela gravadora Odeon, com produção do maestro tijucano Antônio Carlos Jobim.
“João Donato é um dos precursores da bossa nova, por sua atuação como pianista e compositor desde o início dos anos 1950. É moderno para a época, e seu piano já apresenta um toque diferente de tudo o que existe no momento”, relata a Enciclopédia Cultural do Itaú.
No final dos anos 1950, trabalhou com a cantora Elizeth Cardoso, em seguida, viveu por três anos nos Estados Unidos, e também excursionou pela primeira vez tocando com João Gilberto.
“Enquanto nos Estados Unidos, sua canção “Minha Saudade” (1955), parceria com João Gilberto, permeia o repertório das primeiras apresentação e festivais de bossa nova, estilo musical de fins da década de 1950”, descreve a Enciclopédia do Itaú.
Fez trabalhos com artistas como Astrud Gilberto, Dorival Caymmi, e os americanos Nelson RIddle e Wes Montgomery.
Após voltar ao Brasil, no início dos anos 1970, grava o disco “Quem é Quem”, onde o até então intérprete de música instrumental aparece cantando pela primeira vez.
“Suas composições são instrumentais, ganhando letra a posteriori. “As minhas primeiras letras surgiram a partir desses temas instrumentais já gravados, que eu pensava que não iam ter letra nunca. Bananeira era Villa Grazia, o nome da pousadinha onde a gente ficou em Lucca, na Itália, acompanhando o João Gilberto numa temporada (…). Noventa e nove por cento das minhas músicas instrumentais trocaram de nome, por causa da letra” diz João Donato. Outro exemplo é a música “Índio Perdido”, que muda para “Lugar Comum” após receber a letra de Gilberto Gil (1942)”, destacou a Enciclopédia Cultural.
Fez parcerias com Gilberto Gil, como “A paz”, “Bananeira” e “Lugar Comum”, com Caetano Veloso, como a famosa “A Rã” e “Surpresa”, com Chico Buarque fez “Cadê Você”, com Martinho da Vila, por exemplo, “Gaiolas Abertas” e “Daquele Amor Nem Me Fale” e, com Cazuza, “Doralinda”.
“As composições de Donato possuem característica marcante: a primeira frase rítmica repete-se no decorrer da música, como em “A Rã”, “Até quem Sabe”, “Lugar Comum”, “Amazonas” e “Cadê Você”. Às vezes mantém a mesma melodia, alterando somente a harmonia, como é o caso da segunda parte da música “A Rã”. Não trabalha em cima da composição, mas dos arranjos”, completou a análise da Enciclopédia.
Depois dos anos 1990, passou a lançar discos principalmente por gravadoras independentes. Ganhou o Grammy Latino de 2010 na categoria “Melhor Álbum de Latin Jazz” pelo disco “Sambolero”.
Ele voltaria a ser indicado ao prêmio, na categoria de “Melhor Instrumental”, com o álbum “Donato Elétrico”, em 2016, considerado o 16º melhor álbum brasileiro do ano pela revista Rolling Stone Brasil.
Morador do bairro da Urca, na zona sul da capital fluminense, Donato era casado desde 2001 com a jornalista Ivone Belem. Ele deixa os filhos Jodel, Joana e Donatinho.
Com informações da CNN.
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