Carro oficial da Olimpíada de Paris não convence cientistas de que é sustentável
A Toyota é uma das parceiras oficiais dos Jogos Olímpicos de Paris e escolheu o Mirai para ser o carro oficial do evento. Apesar de ser movido a hidrogênio, usando a substância como combustível e eliminando pelo escapamento apenas água, o automóvel não convenceu cientistas de que é, de fato, sustentável.
No papel, a ideia do carro parece estar de acordo com a proposta ecológica da Olimpíada de Paris, mas um grupo de 120 cientistas, acadêmicos e engenheiros das universidades de Cambridge, Oxford e Colorado discordam. Em uma carta aberta, eles contestaram a escolha do modelo e pediram a mudança para algum carro elétrico movido à bateria (BEV), afirmando que esses é que realmente não emitem poluentes.
“A Olimpíada de Paris estão sendo usadas pela Toyota para promover carros, ônibus e outros veículos movidos a hidrogênio como uma solução para a mudança climática. Isso está cientificamente desalinhado com o conceito de emissão zero”, explica David Cebon, diretor do Centro de Transporte Rodoviário Sustentável da Universidade de Cambridge.
Como principal argumento, o grupo de estudiosos afirma que, embora o Mirai não emita gases poluentes, a produção do hidrogênio depende de combustíveis fósseis e isso gera “de 30% a 50% mais emissões do que simplesmente usar combustíveis fósseis em primeiro lugar, dependendo da aplicação.”
Os cientistas também alegam que a exposição de um carro a hidrogênio nos Jogos Olímpicos prejudica a comercialização dos modelos BEV e atrasará a transição energética que a Europa pretende fazer até 2030.
Os problemas foram ressaltados pelo grupo de cientistas porque, desde o anúncio do evento, a Olimpíada de Paris tem se vendido como um dos mais sustentável da história.
Outro detalhe é os 500 Mirai disponibilizados pela montadora para os Jogos, serão integrados à frota de táxis a hidrogênio local, totalizando 1.500 veículos. Entretanto, a infraestrutura de abastecimento para esse tipo de veículo ainda não está plenamente desenvolvida, o que coloca em cheque a sua viabilidade.
Esse problema também está sendo relatado pelos donos de Mirai nos EUA. Eles estão processando a Toyota por indisponibilidade de hidrogênio no mercado para abastecer os veículos.
Em sua defesa, a Toyota diz que tem trabalhado para superar os problemas, não só para expandir a rede de abastecimento como também para deixar a cadeia de produção do hidrogênio mais verde.
E o Brasil tem um papel importante para isso. Embora o Mirai não seja desenvolvido por aqui, a montadora trouxe unidades de teste para o seu projeto de hidrogênio verde, feito a partir do etanol da cana-de-açúcar.
Segundo informou a CNN, a Toyota, junto da Universidade de São Paulo (USP), da Shell e de outras empresas, anunciaram, no ano passado, o desenvolvimento de uma estação de produção e abastecimento de hidrogênio. Ela será instalada na Cidade Universitária da USP e usada para abastecer dois ônibus que circulam pelo campus.
Com a utilização do etanol, todo o ciclo na produção do hidrogênio se torna mais limpo, já que o gás carbônico emitido no processo é absorvido pela cana-de-açúcar necessária para a produção do etanol.
Como funciona o Mirai.
Diferente de elétricos movidos à bateria e carros à combustão, o Mirai utiliza uma célula de combustível. Nesse caso, o hidrogênio passa por um catalisador que separa seus íons e elétrons.
Os elétrons formam uma corrente elétrica que alimenta seu motor elétrico de 182 cv e 22 kgfm e também pode ser armazenada em uma bateria, bem menor que as dos BEVs. Já os íons, se juntam às moléculas de oxigênio retiradas do ar, resultando em água, que é expelida pelo escapamento.
Como é movido por um motor elétrico, o Mirai tem todos os seus benefícios, como o torque instantâneo e a frenagem regenerativa. O seu tempo de abastecimento também é menor que o de um elétrico, levando de cinco a dez minutos para abastecer os tanques de hidrogênio, que garantem 600 km de autonomia, segundo a fabricante.
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