Momentos marcantes, como os primeiros passos, as primeiras palavras ou o dia em que nascemos, permanecem fora da nossa memória. Essa incapacidade de recordar eventos dos primeiros anos de vida é conhecida como amnésia infantil, tema que tem desafiado neurologistas e psicólogos por décadas.
Pesquisas indicam que o hipocampo — região do cérebro responsável pela formação de memórias — ainda não está totalmente desenvolvido nos primeiros anos, o que pode dificultar o armazenamento de lembranças antes dos quatro anos. Estudos mais recentes, no entanto, mostram sinais de que bebês a partir de um ano conseguem codificar memórias. Em experimentos conduzidos pelo professor Nick Turk-Browne, da Universidade de Yale, bebês entre quatro meses e dois anos foram expostos a imagens enquanto seus cérebros eram escaneados. Os resultados sugerem que o hipocampo consegue registrar memórias, especialmente em crianças com mais de 12 meses.
Ainda assim, a questão sobre o destino dessas memórias permanece em aberto. Pesquisas com animais indicam que lembranças formadas na infância podem se tornar inativas e até ser reativadas por estímulos específicos. Catherine Loveday, professora de Neuropsicologia na Universidade de Westminster, afirma que bebês conseguem criar memórias, mas que elas muitas vezes não se consolidam. Além disso, nossas primeiras lembranças podem ser reconstruções do cérebro a partir de informações externas, e não experiências vividas diretamente.
Para Turk-Browne, o fenômeno da amnésia infantil está ligado à identidade humana. “Ter esse ponto cego nos primeiros anos de vida desafia profundamente a forma como pensamos sobre nós mesmos”, afirma o pesquisador. Apesar dos avanços, o mistério sobre como armazenamos e acessamos nossas primeiras experiências continua a instigar cientistas em todo o mundo.
Com informações do O Globo.