Mensagens e áudios evidenciam um esquema estruturado de intimidação e boicote articulado por integrantes da Cooperativa dos Médicos Anestesiologistas do DF (Coopanest-DF). A estratégia tinha como alvo um hospital particular da capital federal, que rompeu com o grupo que monopolizava os serviços de anestesiologia na instituição. Os materiais incluem ameaças diretas, perseguição profissional, processos de expulsão e tentativas de retaliação institucional.
A noticia é do portal METRÓPOLES. O ponto de inflexão ocorreu quando o hospital decidiu ampliar suas salas cirúrgicas e exigiu contrapartida da cooperativa para arcar com os custos da expansão. Com a negativa da Clínica de Anestesiologia de Brasília (CAB), filiada à Coopanest, o hospital rompeu o contrato e passou a contratar anestesistas independentes. A decisão teria dado início a um movimento coordenado para sufocar o hospital e dissuadir médicos de atuarem na instituição.
As mensagens mostram que anestesistas que aceitaram atuar no local foram imediatamente alvos de ameaças, denúncias e processos internos. Profissionais foram acusados de infrações éticas e passaram a responder a notificações de expulsão da cooperativa.
Alguns relataram pressões envolvendo familiares e até insinuações de perseguição em outros vínculos empregatícios. Em um dos episódios, uma médica foi alertada de que seu filho recém-formado “não arrumaria emprego em Brasília”.
O impacto foi imediato: o volume de procedimentos despencou. Cirurgias eletivas foram canceladas, e, em alguns dias, apenas emergências foram atendidas por falta de profissionais dispostos a enfrentar o boicote. Estima-se que mais de 790 cirurgias deixaram de ser realizadas nos meses seguintes ao início da pressão.
Além do boicote local, os registros revelam a preocupação da cúpula da Coopanest-DF com a possibilidade de o modelo adotado pelo hospital — com contratação direta e negociação com planos de saúde — se espalhar por outras instituições do DF. Integrantes da cooperativa demonstram receio de perder o controle do mercado e de que a quebra do monopólio incentive acordos mais transparentes entre hospitais e anestesistas, reduzindo a influência da entidade.
O caso se soma às apurações da Operação Toque de Midaz, deflagrada em abril pela Polícia Civil do DF e pelo Ministério Público. A ação teve como alvo os principais nomes da Coopanest-DF, suspeitos de integrar uma organização criminosa voltada ao cartel da anestesiologia na capital.
Segundo as investigações, o grupo impõe restrições a médicos independentes, fecha acordos exclusivos com operadoras de saúde e usa intimidação para manter domínio sobre os serviços em hospitais públicos e privados.