O escândalo do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) ganhou contornos ainda mais graves com o aprofundamento das investigações. O próprio instituto identificou que 18 associações de aposentados e pensionistas usaram software para falsificar assinaturas de forma automática no esquema de descontos indevidos nos contracheques.
A situação já havia sido denunciada pelo Portal 96 FM, em contato com idosas que se sentiram lesadas pelo esquema. Elas haviam solicitado a devolução dos recursos descontados, mas receberam, por e-mail, audios claramente falsos, apresentados pela a Associação de Aposentados Mutualista para Benefícios Coletivos (AMBEC) como forma de comprovar as assinaturas.
Agora, segundo reportagem da CNN Brasil, dessas 18 entidades, 12 foram identificadas anteriormente e mais seis recentemente. Todas foram acionadas para prestar esclarecimentos. O órgão ainda apura a participação de demais associações que ainda não responderam sobre o uso automático para inclusão de nomes.
“Inicialmente tivemos 12 associações que abriram o processo, que são aquelas que são laranjas, que pagaram propinas e que não existem. Identificamos mais seis que contrataram software de assinaturas e outras tantas que não responderam nenhum questionamento aos nossos segurados ou responderam muito poucos ou juntaram documentos não permitidos pelas nossas instituições normativas”, disse em entrevista à CNN nesta quinta-feira (24) o presidente do INSS, Gilberto Waller Jr.
De acordo com outra reportagem, do Metrópoles, o INSS recebeu 176 mil contestações de vítimas dos descontos indevidos em benefícios do INSS em relação aos documentos que as entidades associativas apresentaram para justificar os contratos. A matéria cita contestações em dados errados nos contratos, como o CPF ou até mesmo o nome dos segurados, e áudios falsos e fabricados como justificativa de acordos, conforme revelou a CNN no mês passado.
CASO DENUNCIADO EM JUNHO
Exemplo disso aconteceu com uma idosa que, para preservar o nome dela, vamos chamar de Josefa. Ela recebeu um e-mail do INSS afirmando que o dinheiro descontado irregularmente não seria devolvido porque a entidade a qual ela estava vinculada, a Associação de Aposentados Mutualista para Benefícios Coletivos (AMBEC), tinha comprovado que ela "contratou os serviços" e "concordou com os descontos". O INSS ainda mandou, em anexo, os documentos que comprovariam tal contratação.
O filho de Josefa, revoltado, chegou a confrontar a mãe antes mesmo de abrir os anexos. Contudo, quando abriu as imagens, ficou claro o golpe. Primeiro, a imagem que tratava da contratação não tinha qualquer assinatura física ou digital ou imagem. O "aceito" havia sido dado por meio de ligação, gravada, também enviada por anexo.
E aí, quando se ouve o áudio da suposta gravação, o novo golpe fica mais claro: o operador de telemarketing fala o nome de outra pessoa, totalmente diferente do nome de Josefa. Em seguida, cita o CPF dela e afirma: para confirmar a contratação, diga seu nome completo. Aí vem a maior falcatrua: a voz que responde e que cita o nome de Josefa (em confronto ao citado pelo operador), é claramente diferente da voz da aposentada, e parece até ser de Inteligência Artificial.